
No dia 20 de novembro, o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra, uma data que vai muito além de uma simples lembrança no calendário. Ela representa uma luta histórica pela valorização da cultura e das contribuições da população negra, além de ser um marco na resistência contra o racismo e a desigualdade estrutural que atravessam o país desde os tempos da escravidão.
Mas esse dia não foi escolhido por acaso. Ele marca a morte de Zumbi dos Palmares, líder do maior e mais duradouro quilombo da história brasileira: o Quilombo dos Palmares. E é exatamente essa conexão entre a figura de Zumbi, a luta por liberdade e o apagamento de narrativas negras que torna o Dia da Consciência Negra tão relevante – e necessário – em nosso contexto contemporâneo.
O Dia da Consciência Negra começou a ser celebrado em 1971, em Porto Alegre, pelo Grupo Palmares, formado por ativistas negros. Mas só ganhou projeção nacional nos anos 2000, quando passou a integrar o calendário escolar, que também tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira. Em 2011, a data foi instituída como feriado nacional pela Lei 12.519.
Escolher o 20 de novembro não foi um gesto aleatório: foi uma decisão política. Esse foi o dia da morte de Zumbi, em 1695, simbolizando não a derrota, mas a resistência. Enquanto se é ensinado sobre "a princesa que assinou a Lei Áurea", esse feriado resgata a luta dos que se levantaram contra a escravidão e que, por muitos anos, foram silenciados pela história oficial.
Quem foi Zumbi dos Palmares?
Zumbi foi um dos maiores líderes de resistência do período colonial. Nascido livre no Quilombo dos Palmares e capturado ainda criança, foi entregue a um padre, que o batizou e educou. Aos 15 anos, fugiu de volta para Palmares e, mais tarde, assumiu a liderança da comunidade quilombola.
O Quilombo dos Palmares, localizado na Serra da Barriga em Alagoas, chegou a reunir cerca de 20 mil pessoas, entre negros escravizados fugidos, indígenas e até brancos pobres. Era um território livre, autônomo e símbolo de uma sociedade possível sem escravidão.
Zumbi lutou contra o exército português com estratégia e organização. Morreu em combate em 1695, mas sua figura transcendeu a história, tornando-se símbolo da resistência negra no Brasil.
O Brasil ainda carrega as marcas da escravidão: a população negra é maioria entre os mais pobres, os mais encarcerados e as maiores vítimas de violência. Por isso, o Dia da Consciência Negra é mais do que uma data comemorativa, mas um convite à reflexão e à ação.
A luta pela preservação da memória é também a luta contra o apagamento histórico. Por séculos, ensinou-se nas escolas uma história eurocêntrica, que minimizou ou ignorou a participação negra na formação do país. Zumbi dos Palmares, Dandara, Luiza Mahin e tantos outros foram personagens invisibilizados, apesar de terem desempenhado papéis fundamentais na resistência à escravidão.
O Dia da Consciência Negra nas escolas, universidades e empresas deve ser uma oportunidade para o debate sobre racismo, privilégios e inclusão. Mais do que uma data no calendário, ele é parte de um processo contínuo de formação para a igualdade.
Resgatar as vozes negras é essencial para construir um país mais justo. E essa construção começa com o conhecimento. Que 20 de novembro seja, então, um marco de luta, reflexão e ação.